segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Casa

Nas águas furtadas de Ti,
Em paz no teu suspirar,
O livro que jurei que li?
Selado; por folhear.

No ponto mais alto de nós,
Deposto num sono profundo,
Calado, para não gastar voz,
Aos gritos, por dentro, para o Mundo.

Casa...
É onde estamos juntos.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Incógnito

Apaga-me os olhos, ainda posso ver
Pintado de negro para transparecer
Saudade prescrita, a convalescer
Do medo da vida, de poder morrer

Na curva do sonho, a pressa de vencer
O peito gelado, o sangue a ferver
Deitados, colados, a gastar prazer
No fim nem há paz para adormecer...

E vives convencido que isso é viver;
Incógnito, escondido, para ninguém te ver...



terça-feira, 12 de novembro de 2013

Prefácio I

Preso ao mastro, arqueado, contra o vento
Rodeado pela imensidão de mar
Esqueço o tempo, que também me esquece a mim
Frente às nuvens, carregadas, que se chegam
Ancorado à maré que não mais desce
Céu aberto, como o peito, olhos não;
Ignorando as gaivotas que me avisam;

“Ontem já não volta, já não é”...


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Os lobos batem-me à porta

Os lobos batem-me à porta...
Afiam dentes no escuro.
O peito grita revolta;
Nascem fissuras no muro.

Que isola o meu sentir,
E me divide do Mundo.
Num permanente cair,
Num pré futuro defunto.

Devo eu abrir a porta?
Devagar, ou de rompante...
Ou guardar em sacos rotos,
A memória de elefante?

Os lobos batem-me à porta...



terça-feira, 24 de setembro de 2013

Deixa Andar

Quisera eu ser de outra forma,
Mais do mesmo, sem prefixos, só canção na primavera...
Quisera eu saltar mais alto
Sem ter medo do asfalto, terra bruta, nódoa negra...
Quisera eu morrer feliz
Sem raízes, armadilhas, calabouços de papel...
Quisera eu sentar-me à sombra
Respirar, deixar andar, engolir todas as nuvens...
Cheira a relva por cortar;
Cheira a sol de outono gasto;
Cheira a verão preso no tempo;
Cheira a dor nas cartilagens;

Cheira tanto a ‘deixa andar’.




terça-feira, 16 de julho de 2013

Mergulho

De novo deste à Luz,
De novo a mesma cruz
A dor de ter o Amor por dentro;

De novo a salvação,
Repete-se a canção,
Na forma líquida de vento.

As noites sem dormir,
Não servem para fechar os olhos
Por segundos;

A dor de quem ampara
A Vida a acontecer,
A ponte oscila entre os dois  Mundos.

De novo a mesma luta
A cara a olhar para dentro;
As vozes que falam contigo...

Um dia atrás do mesmo,
Para lá do sol posto.
Descola os olhos do umbigo....


quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quinhão

Quando o Mundo, sujo, imundo,
Te afagar, me afogar;
Quando a Alma, queda, calma,
Desistir de retentar;
Quando o hoje não for mais
A semente de amanhã
E o ontem já não for
O teu mago talismã;
Fecha os punhos, cerra os dentes
Porque aquilo que hoje sentes
É complexo, fugidio
Tão difícil de agarrar...

Espera calmo, sem demoras
Espera vinte e quatro horas
Porque o Mundo, sujo, imundo
Nunca pára de rodar
E então à mesma hora
No mesmo local marcado
Lá estará a mesma sombra
Para que a Alma, queda, calma,
Seja outra vez anciã
E o hoje seja fruto
De um futuro, um atributo
Para que o ontem seja em espasmos
Novamente um talismã.

Longa se torna a espera pela indubitabilidade...





segunda-feira, 11 de março de 2013

Fado Afogado

Quando a fragata for ao fundo
No mar que teimas em tentar,
Não chores que não vale a pena;
Serão mais ondas para nadar.

Quando a fragata for ao fundo
E vires que estás fora de pé,
Não te compares com o Mundo
O Mundo não mostra quem é.

Quando a fragata for ao fundo
Nesse negrume consentido
Responde agora no silêncio
À voz que ecoa em teu umbigo...

Quando a fragata for ao fundo
E nada o fizer prever;
Não julgues que perdeste tudo;
Ganhaste a aposta de Viver.

Quando a fragata for ao fundo
E tu fores ao fundo com ela,
Não abandones o teu barco
Quando este vir rasgar-se a vela.

Quando a fragata for ao fundo
E ouvires ao longe uma gaivota,
Aceita o último suspiro,
Que esta maré já não volta...


quarta-feira, 6 de março de 2013

Hoje, assim

Às vezes o eterno dura apenas um segundo;
Às vezes o virar da esquina é no fim do Mundo.
Às vezes um pouco de nada pesa mais que tudo,
E ouve-se a palavra certa da boca de um mudo.

Às vezes, quando chove, o Sol esconde-se da gente;
Às vezes quando tentas Ser, o corpo está dormente.
Às vezes fazes como os gatos, para cair de pé,
Às vezes o que é só às vezes, às vezes nunca é.


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Espelho


Espelho, diz-me, por que estás tão triste?
Quem te colocou covas nos olhos?
Quem te rasga a pele pela manhã?
Quem te dobra os lábios para baixo?
Quem te tirou toda a liberdade?
Quem te prende nessa imensidão de faz-de-conta?
Quem te amarga a boca com o licor do amanhã?
Quem te cose o peito com mestria dedicada?
Quem te desmascara com silêncios faladores?
Quem te vê de fora para dentro?
Quem te vê tão triste, tão cinzento?
Quem tu escondes?, diz-me se souberes.
Quem és tu?, de uma vez por todas;
Diz-me espelho, porque não te mostras?
Se este lado és tu, mas ao contrário;
Quem é este? É imaginário?


domingo, 20 de janeiro de 2013

Trinta rosas, doze limões

Sem a tua voz a aconchegar-me o coração,
Nunca mais vou encontrar cabelos teus no chão.
Tão branquinhos!..
Como a Alma que hoje te deixava;
Tão branquinhos,
Como a alma que hoje me deixou...