sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Canção do Adeus

Leva-me ao abate hoje ainda;
Esconde essa lágrima de nós dois.
Sabes que o Amor é coisa linda!
Guarda-o, para o lembrares, a sós, depois...

Leva-me ao abate ao fim do dia;
Vem aproveitar-me, o sangue é quente...
Prende-nos numa fotografia
De cicatriz, para durar para sempre...


sábado, 24 de dezembro de 2011

Rele(s)gião

Obrigado, Deus, pelo pão nosso de cada dia;
Obrigado pelas crianças com leucemia...
Tu és tão bom para nós...

Tens o dom de escrever direito por linhas tortas;
E um jeito especial de fechar todas as portas...
Tu és tão bom para nós...

Ensinaste-me a dar a outra face do rosto;
Por isso peço-te Paz e tu me dás o oposto...
Tu és tão bom para nós...

"Deixai vir a mim as criancinhas" - frase neutra?
Há quem te represente e leve a coisa à letra;
Tu és tão bom para nós...


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Amorexia Nervosa


Faltas-me em ar, sobras-me em dor
Ser só por estar congela o calor
Queima-me o peito, esse amor cerebral
Cais a direito do teu pedestal

Partes para longe, deitada a meu lado
Esqueces o corpo no lençol molhado
Rasgas-me as asas para não voar
Lavas-me em lágrimas, mas sem me afogar

Deixas-me tudo o que possa faltar
Cobres com cinzas castelos no ar
Faltas-me em ar, sobras-me em dor
Estranho esse monstro a que chamas Amor


quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Verdade ou Consequência


Farto, tão farto de te ver partir
De te ver chegar,
Eis o que significas para mim...

Nem sei bem
Como te classificar
És mais um meio para atingir um fim;

Purifica, purga a minha alma
Com esfregão de arame
O teu Lava Tudo, lava tudo;

Crucifica-me
Com lápis de cera;
Abafa os gritos do meu peito mudo...

Esta verdade é consequência
De uma outra que nem sabes fingir
No jogo, que tanto gostas
Vou ser o último a rir

Arrebenta outra vez a bolha,
O teu coito é tão, mas tão vulgar...
O jogo, que tanto gostas
Vai acabar por esgotar.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Feliz Natal...


Hoje, é Natal...
As ruas enfeitadas brilham sobre a chuva na calçada, que reflecte as montras das lojas, abertas até mais tarde.
A padaria do bairro despachou a última fornada de pão quente, e o cheiro convida as pessoas que formam fila à porta a entrar em busca do último ingrediente do jantar que os espera.
Hoje, não vou de elevador. Utilizo as escadas, na subida até ao último andar do prédio.
O cheiro a bolos e canela brinca e mistura-se com o das refeições quentes no forno. Entre cada andar, o riso de crianças interrompe as minhas fantasias: ora sou morador num apartamento e vou receber os meus convidados à porta do prédio, levando-os para o conforto de casa, onde nos espera a minha mulher e os meus filhos, ora sou eu mesmo um convidado, a chegar a um andar onde o calor de uma família amiga me espera.
Qualquer dos casos me é estranho; e nunca vou saber o que nasce no peito numa situação destas; mas também não interessa...
É quase hora de jantar, os convidados estão a chegar, significa que está na minha hora.
Desço os degraus apressadamente, tão depressa quanto os meus joelhos trémulos permitem.
Não quero cruzar-me com nenhum dos moradores.
Entre o 3º e o 2º andares encontro um cartão novo - alguém comprou uma televisão... hoje vou dormir mais quente.
Feliz Natal...

sábado, 5 de novembro de 2011

onze vinte e dois avos

Metade da minha Vida já passou, e eu não sou nem metade do que queria ser;
Nunca entendi sequer metade da forma certa de fazer metade da coisa acontecer...
Metade da razão é minha; mas a metade maior está ao Deus dará;
Terá chegado a hora de aceitar que metade de metade nem metade dá?!

Mas a metade da Vida que me falta, vou estragá-la muito provavelmente;
Por não saber mexer-me neste xadrez - não ensinaram nem metade das regras à gente...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Trapézio = 0

Retira-te da equação
Olha para nós, de fora
Aposto que te falta o verbo quando chega a hora...

De ensaiar a despedida
Pôr termo ao teu guião
Aposto que te faltam forças pra sair do chão...

Agora que a rede rompeu
E já não tens onde cair
Abafa a dor de ter sido eu, o último a rir...

Resguarda-te em princípios vãos
De uma qualquer ideologia
Que diz que um Ser pode ser Ser com a alma vazia...

Mantêm-te nessa ilusão
Engana-te mais uma vez
Aluga o teu coração por X facadas ao mês...

O teu trapézio
Não marca a hora
De dares de ti
A quem te adora
O teu trapézio
Igual a zero
Vou dar de mim
A quem não quero...


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cais Saudade

Ele há coisas que se prendem em raízes, fundo...
Ancoradas, rasgam horas em cada segundo;
Não há tempo que as apague, não fervem idade;
Como tu, que atracaste, no cais da saudade...

Quarto Escuro

Prognóstico bastante reservado
Roupa preta de tamanho adequado
Traumatismo craniano emocional
Estado de Alma em coma institucional...

Sempre à beira, tão à beira de cair
No meu quarto já não existem janelas
Desde sempre que me lembro de existir
P'ra servir de antónimo às coisas mais belas...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pièce de Résistance

O copo já não vai à cama
O corpo é lama
O corpo é lama...

O corpo já não é um só
O corpo é pó
O corpo é pó...

O corpo já não sente o chão
O corpo é cão
O corpo é cão...

O corpo já não vive morto
O corpo é corpo
O corpo a corpo...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Eles

Eles não te prendem, não te agarram, não consomem...
Eles não te sentem, não conseguem...
Eles não toleram, não te embalam, não te esgotam...
Eles não te sentem, não conseguem...

Eles não te trazem, não carregam, não te movem...
Eles não te sentem, não conseguem...
Eles não te cospem, não te arranjam, não te mudam...
Eles não te sentem, não conseguem...

Eles não te esmagam, não te rasgam, não te sonham...
Eles não te sentem, não conseguem...
Eles não te abraçam, não desdizem, não sossegam...
Eles não te sentem, não conseguem...

Então para quê?... Então para quê?..