sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Brincar aos grandes


Anda, vem brincar aos grandes, vem comigo ali para trás
Esquece o conselho de quem te disse que isso não se faz
Sabes que eu, por ser mais velho, mereço a tua atenção
Tenho a tua vida, o teu futuro, na palma da mão

Anda, vem brincar aos grandes, tira a roupa, está calor;
Faz de conta que de inverno só trememos por amor.
Esquece tudo o que sabias, nada será como dantes
Reza mais uma oração, que a dor passa em instantes.

Anda, vem brincar aos grandes, tenho tanto para te dar...
A ferida que te ofereço pode nunca mais sarar;
O segredo é deixares-te ir, e gozares a sensação
Depressa te habituas a enganar o coração.

Porque é que estás tão parado, branco, frio, sem respirar?
Até parece que já não te apetece mais brincar...
Se calhar exagerei ,na minha forma de amar;
Se assim for terei saudades, mas há mais peixe no mar...


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Por estes dias...


A tua filha sente-se a desfalecer
A raiva cresce em ti por não saberes o que fazer
Não há dinheiro, vais ter que optar;
Ou vais com ela ao médico, ou dás-lhe de jantar.

Afunda os dentes numa côdea com 2 dias
Evita a todo o custo duas barrigas vazias
Um dia destes nem te safa uma fiança
Quando as tuas mãos tentarem equilibrar a balança

Mas acreditas que nem tudo é em vão;
Podes sempre alugar bocados do teu coração,
Não te faz falta, estás privado de o usar
Ao menos esta noite tens algo para mastigar;

Recorda os tempos passados no orfanato
Tu próprio foste vítima de um mal maior que tu.
"Pedofilia", o termo destes dias
Os tribunais preferem "rasgar de minorias"

Mais que homicídio, o crime mais atroz
Mas "já tinhas 16, porque não usaste a voz?"..
E assim aos olhos da lei que por cá se faz
Foi crime consentido, sem sentido, tanto faz.

Agora é tarde para pôr os pés no chão;
Se queres sentir o peso do vazio olha para a mão.
Engole a dor, não tentes enfeitar o dia;
Cabeça erguida, mas de barriga vazia.


sexta-feira, 4 de maio de 2012

Auto Retrato - parte I


Tenho a Alma às cores, e as mãos a preto e branco;
Tenho asas nos pés e contra pesos à cintura.
Se tempos houve em que achei que ia chegar a tanto,
Esses delírios foram sol de pouca dura.
Assim, pinto em linhas rectas as curvas soltas da Vida.
Em tons de Outono mortiço, já de si deslavado.
Que interesse tem o final desta viagem sentida?
Se o que marca são passos de um caminho trilhado...
De peito cheio de nada, as mãos vazias de tudo;
A boca aberta ao vento, engole mais do que diz.
Os gritos mudos adornam as chagas de veludo
A morte lenta é doutora, o sol de dentro, aprendiz.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Dezembro dentro


Lava os vidros das janelas;
Lava os carros, e a Alma;
Só não lava esta ansiedade, disfarçada de apatia,
Que nas ruas da cidade, nasce morta a cada dia;
Ora muito lentamente - pegajosa entre a gente;
Ora rápida, eficaz, como as notícias más
Do jornal, que também ele,
É levado na corrente
Dessa chuva, ansiedade
Que labora o seu percurso
Pegajosa, entre a gente, pelas ruas da cidade
Adormecida para a Vida
Que não pulsa, de cansaço
Inebriada e confusa, destruída, paralela
Esta chuva é parte dela


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sufoco

Quando caíres vai ser a direito
Com sete mil facadas no peito
Com nódoas negras no coração...
Quando caíres vai ser de cara no chão;

Quando caíres vai ser em segredo
Com a rotina multiplicada por medo
Aos olhos deles vais ter sempre razão...
Quando caíres vai ser de cara no chão;

Porque eu sou como um peixe
Preso na tua rede
O teu Amor é um deserto
E o pó mata-me a sede.




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Melodia

Minha linda melodia,
Quem te fez tão linda assim?..
Trago-te sempre no peito;
Não te encontro defeito;
És perfeita para mim...

Minha doce melodia,
Quem te trouxe até mim?
Num dia de fé perdida;
Destrancaste o peito em ferida;
Uma forca de cetim...

Olho-te através da lente cega do Amor
Desconstróis a lógica de um louco sonhador...
Da Vida mais Vida desde que nela te vi;
A minha melodia não tem princípio nem fim...


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Febre


Ferve-me o peito em dor
Por não poder ser mais
Quantos mais graus tens tu?..
Troco o cansaço em ar
Respiramos por vento
Espera-te dentro um lume
Queima-te em estado lento...


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Oito


Por ti quero...

... ser o cheiro a pão quente que corta o frio da manhã;
Ser um colo, ser abraço, o teu regaço de lã.

Ser o canto do teu lábio que se curva por me olhar;
Ser a frase que procuras sem teres que a provocar.

Ser o chá de camomila que te acalma ao fim da tarde;
Ser o lume da lareira, que te aquece, mas não arde.

Se por ti não conseguir, sequer vir a ser metade,
Quero ser dor,
Ser a lágrima,
A saudade...